segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TABLETS NAS ESCOLAS


A Secretaria de Educação do Paraná anuncia a distribuição de 32 mil tablets aos professores, para que usem em sala de aula. O gasto é de R$ 62 milhões. Ainda prevê a instalação de 3.700 lousas digitais. Até o final de 2014, a Secretaria pretende conectar cerca de 60% das escolas estaduais. Também o Governo Federal através do Ministério da Educação e Cultura, vai gastar R$180 milhões para comprar tablets que serão distribuídos aos professores do Ensino Médio, em todo o território nacional. A meta é levar os tablets também para os alunos usarem em sala de aula.
Será que os tablets, lousas digitais, e outros eletrônicos, representam genuíno avanço pedagógico ou é apenas acréscimo tecnológico na sala de aula? O gasto público de mais uma nova tecnologia garante bons resultados na aprendizagem dos alunos? As pesquisas científicas e debates sérios apontam a solução tecnológica como melhor alternativa para superar a mediocridade do nosso ensino escolar? Tablets contribui para melhor ensinar?
Pesquisas apontam que não basta dominar os conteúdos de biologia, química, física, matemática. É imperioso saber “como ensinar” ou “como transmitir” cada um deles. Os alunos se queixam: “a prof sabe, mas não sabe transmitir”. Às vezes, falta paciência docente. Os professores também sofrem com alunos sempre distraídos, indisciplinados e até desrespeitosos. Os aparelhos irão contribuir para diminuir a desatenção deles ou terá efeito perverso ao ensino e aprendizagem?
Hoje, a maioria dos docentes improvisa o uso do power point, porque não foi preparado para usar as novas tecnologias como recurso didático. Uma aula torna-se interessante para os alunos desde que o/a professor/a dedique tempo para preparar as aulas. Se o/a professor/a apenas lê slides, ou projeta mensagens fora de contexto, pode obter tédio dos alunos. Ao projetar filmes e filmetes durante a aula, pode gerar suspeita de apenas estar preenchendo o tempo. Portanto, os professores precisam de uma formação adequada para saber como usar os meios eletrônicos disponíveis.
Uma coisa é entregar tablets, lousas eletrônicas, notebooks, apenas aos professores e outra é distribuir tablets também aos alunos. Uma coisa é capacitá-los com uma nova metodologia de ensino e didática específica, e outra é deixá-los à improvisação. Mesmo assim, será preciso criar uma nova cultura escolar que inclua a práxis digital. Isso implica romper com algumas influências anacrônicas que ainda persistem na formação dos docentes.
A atual geração de professores foi formada na mentalidade analógica. Muitos são resistentes às novas tecnologias de ensino ou a mentalidade digital. Professores universitários hoje se irritam com alunos ligados aos seus notebooks e tablets durante a aula. Alguns proíbem o uso. Tal atitude é justificada porque o/a professor/a se sente preterido/a em relação à tela eletrônica, que parece fascinar o aluno ‘digital’. Pergunto: durante a aula, o que deve fazer o professor quando vê que o aluno está no facebook ou outra distração?
Sobre a lousa digital, temos uma no auditório do bloco da Educação da UEM (bloco I-12). Uma lousa virgem. Mas a lousa digital é um instrumento muito usado no sistema de ensino da Inglaterra, declara o professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Eduardo Fleury Mortimer, em palestra na UEM/agosto-2013.
Voltando ao tablet, parece que ninguém é contra seu uso paraorganizar o trabalho diário do professor, além de ser uma ferramenta ágil para pesquisas e outras ações relacionadas à prática profissional”, conforme disse um tecnocrata. Somos a favor da inclusão digital. Porém não está claro como o tablet pode contribuir para a aprendizagem dos alunos. Existe
“o risco mudar a tecnologia, mas as práticas continuarem quase as mesmas. Podemos nos perguntar pelos desafios da didática diante da cultura digital: o tablet na sala de aula modifica a prática dos professores e o cotidiano escolar? Em que medida ele modifica as condições de aprendizagem dos estudantes? Os conteúdos que estão sendo produzidos para os tablets realmente oferecem a potencialidade do meio e sua arquitetura multimídia ou apenas estão servindo como leitores de textos com os mesmos conteúdos dos livros didáticos? Quem está produzindo tais conteúdos digitais? De que forma são escolhidos e compartilhados?” (ver entrevista abaixo)  


São perguntas de Monica Fantin, Doutora em Educação, Professora do Curso de Pedagogia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Educação/UFSC.

Enfim, somos obrigados a conviver com mais esta contradição no ensino escolar: a aquisição de tablets e lousas digitais contrastam com a didática e o discurso pedagógico que sustenta a mentalidade analógica que é reproduzida nos cursos universitários. O alto investimento em tecnologia contrasta com a baixa capacitação dos docentes nesse sentido, sem falar daqueles que pessoalmente são resistentes ao seu uso. Gostaríamos de saber também se o uso de tablets irá diminuir o estresse e os transtornos psíquicos que sofrem os educadores.
É necessário fazer críticas ao sistema de ensino que leva 17% dos professores a se afastarem da sala de aula, em Maringá (O DIÁRIO, 27/06/2013), por problemas de saúde. Existem cidades no Brasil com mais da metade dos professores com problemas de saúde, depressão e fobia escolar (Ver: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2012/10/40-dos-professores-afastados-por-saude-tem-depressao-aponta-estudo.html). Mas será que alguém se importa?
Os professores até poderão ter um treinamento aligeirado para saber “como usar” tablets e lousa digital, mas insisto: esta é a alternativa para darmos um salto de qualidade no processo de ensino e aprendizagem escolar? E a qualidade de vida do professor?


RAYMUNDO DE LIMA é Doutor em Educação (USP) e Professor do Departamento de Fundamentos da Educação (DFE/UEM).

Disponível em: http://espacoacademico.wordpress.com/2013/08/31/tablets-na-escola/

Nenhum comentário:

Postar um comentário